Disciplina - Geografia

Geografia

10/12/2014

Desastres naturais

Desastres naturais ficarão mais comuns, adverte cientista americano


Por Veriana Ribeiro

A cheia histórica do Rio Madeira que isolou o Acre este ano, o curto período de estiagem no estado e a enchente fora de época em Tarauacá, são alguns exemplos de instabilidade causados pelas mudanças climáticas, segundo o doutor em Ciências Ambientais e pesquisador da Universidade Federal do Acre (Ufac) e do Centro de Pesquisa Woods Hole (WHRC), Foster Brown, de 63 anos. Para o especialista norte-americano, que vive no Acre há 22 anos, os eventos extremos - como enchentes e secas históricas - vão ficar cada vez mais frequentes e com maior intensidade.

O desmatamento e a liberação de carbono são alguns dos principais fatores para a instabilidade climática que, segundo o especialista, fica cada vez mais evidente. "É uma combinação de invariabilidade natural, amplificada por dois fatores. Estamos mexendo com a cobertura da terra, que é o desmatamento. Dentro de uma bacia isso pode gerar respostas mais rápidas, mas o desmatamento em bacias longes também afetam a nossa região. A segunda parte é que a humanidade está liberando muito carbono para a atmosfera", explica.

"A combinação de efeitos regionais e efeitos globais, com essa invariabilidade natural, produz a perturbação que estamos vendo no mundo inteiro", acrescenta o pesquisador.

Ele explica que existe mais energia na atmosfera, que provoca ventanias, enchentes, entre outros tipos de catástrofes ambientais. "Os gases de efeito estufa que estamos colocando na atmosfera capturam energia. Essa energia não apenas vai para atmosfera como para o oceano, nós só chegamos a ter um certo equilíbrio por causa dos oceanos. Na média mundial a temperatura aumentou 0,7 graus. Mas isso engana, porque 70% do planeta é água, então, nos continentes essa temperatura é maior", afirma.

Brown afirma que existem eventos ambientais que ocorrem naturalmente, como cheias com elevações extraordinárias ou períodos de estiagem mais intensos que outros, mas que a interferência do ser humano está causando uma inconstância no meio ambiente. Com isso, esses eventos ocorrem cada vez mais próximos e é impossível prever quando novas catástrofes ambientais podem ocorrer.

Como exemplo, ele cita duas secas que ocorreram no Acre."Nós tivemos duas secas que normalmente incidem a cada 100 anos, mas que ocorreram em apenas uma década, em 2005 e 2010. Não dá pra dizer quando será a próxima seca", diz.

Para ele as enchentes com danos estruturais por seis anos seguidos, de 2009 a 2014, também são sinais de alerta. "Os danos são causados por aumento populacional, ocupação irregular, entre outros motivos. Mas ter inundações por seis anos seguidos é um dado problemático. Esse ano culminou ainda com dois meses de isolamento devido a inundação no Rio Madeira, além de uma enchente em Tarauacá e no Rio Gregório, em uma cheia que não existe na memória do povo indígena que vivo no local", preocupa-se.

O pesquisador acredita que não existe uma solução prática para essa situação. Para Brown, enquanto o meio ambiente e as mudanças climáticas não forem prioridades na vida das pessoas, a situação não deve se inverter. "É primeiro necessário reconhecer que existe um problema, não apenas os representantes dos países, mas pela própria população. Nas eleições brasileiras os temas ambientais não foram nem levantados. Isso mostra o desinteresse da nossa população em cobrar os políticos sobre isso ou discutir o tema", afirma.
Esta notícia foi publicada no site g1.globo.com em 09/12/2014. Todas as informações contidas são de responsabilidade do autor.
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