Disciplina - Geografia

Geografia

03/09/2015

Cidades menores, menor crescimento

Conjunto de pequenas cidades faz região crescer menos, avalia geógrafa


Por Heloise Hamada

Mesmo com a estimativa de crescimento de 0,45% para a população do Oeste Paulista, o índice foi abaixo do verificado no país, que chegou a 0,87%, de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Conforme explica a geógrafa Maria Encarnação Beltrão Spósito, esta diferença se dá porque a região é “composta por pequenas cidades”.

"Quando se pega os dados regionais demográficos, um fator que interfere na evolução do crescimento é a presença de médias e grandes cidades. Se uma dada região tem muitas cidades grandes e médias, a tendência de crescimento é bem superior", salienta a geógrafa.

Das 56 cidades do Oeste Paulista, apenas Presidente Prudente tem mais de 222 mil habitantes. As demais nem chegam a 50 mil moradores, com muitas que estão abaixo de 10 mil. A especialista afirma ainda que os pequenos municípios vivem à base da agricultura e, com a modernização dos serviços, acabam "perdendo função".

"Elas perdem função em favor das médias. As pessoas deixam de procurar as cidades pequenas, deixam de morar lá e, quando se faz um cômputo, se uma região tem poucas cidades de importância média, a tendência é ficar abaixo da média nacional", relata.

Maria Encarnação também cita a região de São José do Rio Preto (SP), que, diferentemente da de Presidente Prudente, é composta por cidades que ultrapassam os 50 mil habitantes, como Votuporanga (SP) e Catanduva (SP). "Presidente Prudente reina sozinha. Não tem nenhuma outra que fica no mesmo porte", diz.

'Esvaziamento rural'
A pesquisadora fala que o crescimento populacional é medido pelo número de crianças que nascem/morrem e pelo saldo migratório (quantidade de moradores que entram e saem). "As pequenas cidades, que perdem suas funções, perdem pessoas também. As pessoas até nascem lá, mas acabam indo embora. Por isso, o saldo migratório negativo", pontua.

Outro ponto que contribui para uma região pouco povoada é a questão histórica. A geógrafa conta que o Oeste Paulista é formado por grandes propriedades, que se dedicam à pecuária e à produção de cana de açúcar. "

"A produção está cada vez mais mecanizada e a pecuária também usa menos mão de obra. Isso já explica um certo esvaziamento rural", comenta.

Longe de São Paulo
Com a distância de quase 600 km da capital de São Paulo, Presidente Prudente acaba se tornando o polo central da região e se beneficiando desta condição. "Se você vai comprar um carro novo, não vai para São Paulo, porque é longe. O que não acontece com Jundiaí [SP], que fica próxima da capital", diz a professora.

Ela também afirma que Presidente Prudente é uma cidade importante principalmente por seus serviços e pela educação. "Não há atendimento médico e hospitais nas cidades pequenas e aqui ainda existem as graduações e as pós-graduações. Tudo isso vai trazendo pessoas, que acabam morando e consumindo aqui. Isso traz dinamismo", destaca.

Crescimento X desenvolvimento
Maria Encarnação é enfática ao falar que há diferença entre crescimento e desenvolvimento. "A média da família brasileira é de 3,5 pessoas, o que oscila de cidade para cidade e até mesmo de bairro para bairro. É uma média que vem caindo. Há 20 anos era uma média de quatro. Foi-se diminuindo o número de filhos", enumera.

Essa queda ela explica que é um indicador de melhoria. "Significa que há mais informação, como sobre os métodos contraceptivos, além de a mulher estar mais presente no mercado de trabalho. Isso é algo positivo internacionalmente", enfatiza.

Além disso, ela afirma que um crescimento exagerado pode ser negativo, pois exige mais políticas públicas e investimentos, e isso não necessariamente é um bom sinal. "Crescimento é diferente de desenvolvimento. A cidade pode até crescer, mas isso não significa que a condição de vida está melhor", finaliza.

Livre docência
Maria Encarnação Beltrão Spósito é formada em Geografia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e tem mestrado pela mesma instituição. Ela ainda possui doutorado pela Universidade de São Paulo (USP) e também realizou estágio pós-doutoral em Geografia na Université de Paris I - Sorbonne. Ela obteve o título de Livre Docência pela Unesp, em 2005.

Atualmente, ela é docente dos cursos de graduação, mestrado e doutorado em Geografia, no campus da Unesp, em Presidente Prudente, coordena a Rede de Pesquisadores sobre Cidades Médias (ReCiMe), tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Geografia Urbana, atuando principalmente nos seguintes temas: produção do espaço urbano, estruturação urbana e cidades médias.

Esta notícia foi publicada em 28/08/2015 no site g1.globo.com. Todas as informações são de responsabilidade do autor.
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