Disciplina - Geografia

Geografia

18/12/2012

Marcos Troyjo analisa perspectivas para os BRICS no próximo ano

Por Diário da Rússia

O Professor Marcos Troyjo, codiretor do BRICLab da Universidade Columbia e professor do IBMEC, concedeu entrevista ao site da Americas Society, Council of The Americas (Sociedade das Américas, Conselho das Américas) analisando as perspectivas dos países do BRICS, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, para 2013.

Nesta entrevista, concedida à jornalista Rachel Glickhouse, Marcos Troyjo analisou como estes países se comportarão no próximo ano nas questões referentes à tecnologia, inovação, energia e políticas econômicas.

Rachel Glickhouse – O Sr. tem dito que os países do Grupo BRICS precisam mudar o DNA das suas políticas. O que quer dizer com isso?

Marcos Troyjo – Uma das razões pelas quais os países do então Grupo BRIC vêm sendo considerados em ascensão desde 2001 é o fato de que eles possuem capacidade criativa de adaptação diante da economia global. Ou seja, o crescimento destes países tem mais a ver com esta capacidade de adaptação e criatividade do que, propriamente, com quaisquer outras virtudes. Dessa forma, o crescimento dos países do Grupo BRICS, no período de 2001 a 2011, deve ser creditado a sua capacidade de adaptação criativa. Adaptação criativa tem significados diferentes para Brasil, Rússia, Índia e China. Para a China, adaptação criativa significa reorganização da sua capacidade produtiva para que o país possa se tornar um dos líderes em exportações. Foi por esta preocupação que a China recebeu status de Nação Mais Favorecida em suas relações comerciais com os Estados Unidos. A China desenvolveu um programa muito inteligente de parcerias público-privadas, parcerias estas que permitiram aporte de capital para expansão da sua infraestrutura.

O país controlou salários, taxas de câmbio e fatores de produção para alimentar a sua imagem de alta competitividade perante o mundo. Para o Brasil, adaptação criativa significou uma substituição 2.0 da sua política de importações. O Brasil utilizou em seu benefício os excedentes adquiridos com commodities, particularmente na agricultura e no comércio de minerais com a China, e descobriu em águas profundas ricas reservas de petróleo no ultramar. O país também foi capaz de conceber um dos programas mais avançados de biocombustíveis no mundo. Então, essas três características criaram os recursos necessários para permitir a substituição das importações.

Na Índia, a adaptação criativa foi materializada, nos últimos 25 anos, pela provisão de alternativas mais baratas em áreas como Tecnologia da Informação, indústria farmacêutica e produtos têxteis. Ela também desenvolveu outros mecanismos de relacionamento externo que lhe permitiram diminuir a dependência externa, ou seja, a dependência de outros países. Agora, os mercados tradicionais dos Estados Unidos e da Europa estão paralisados. Portanto, os países do BRICS tem de mudar o seu DNA no sentido de que eles precisam direcionar recursos para a inovação. Depois de uma década de cópias e adaptações, estes países têm de passar para uma nova década de concepção, formulação e inovação. Se os países do BRICS forem capazes de realizar esta mudança de DNA, eles continuarão a ser alguns dos mercados de crescimento mais dinâmicos do mundo. Mas, se eles não forem capazes de efetuar estas mudanças, então terão de enfrentar uma perigosa e esburacada estrada pela frente.

RG – Políticas locais obrigam as empresas a comprar ou a produzir uma determinada porcentagem de bens ou serviços no mercado interno para que possam operar em determinado países. Na sua opinião, como estas políticas locais podem impactar as economias do Grupo BRICS e as suas estratégias comerciais? O Sr. prevê quaisquer alterações para estas políticas em 2013?

MT – Leis locais protetivas e protetoras são essenciais para os países do BRICS, apesar de cada um destes países possuir a sua própria ótica na elaboração destas leis protetoras dos seus próprios mercados. A China, por exemplo, está implementando, agora, uma série de medidas anticíclicas que têm aspecto extretamente protecionista no seu núcleo. Se você é um fabricante de aeronaves e pretende vender seu produto para o cliente mais importante da China, que é o governo chinês, você tem de produzir, essencialmente, 70% dos aviões na China, gerando, portanto, impostos e postos de trabalho no país. A China tem reservas cambiais em torno de US$ 3,7 trilhões como medida anticíclica para que as empresas não se afastem dos seus focos de produção. Nesse aspecto, deve-se reconhecer que a China já alterou o seu DNA de crescimento econômico, crescimento este em que pontificam tanto as exportações quanto o consumo interno. No Brasil, leis protecionistas são importantes no sentido que há indústrias a serem resguardadas. O Brasil tem se desindustrializado muito rapidamente devido à concorrência global, principalmente da Ásia. Uma das formas de o governo brasileiro promover a reindustrialização é adotar as leis protecionistas em favor das grandes empresas do país contra as grandes multinacionais. É o caso, por exemplo, da Petrobras, da Embraer e da Vale. Estas empresas funcionam como grandes fatores para o desenvolvimento e crescimento econômico do Brasil. A Petrobras, por exemplo, precisa comprar cerca de 20 grandes petroleiros no período de um ano. Se a Petrobras for comprar estes petroleiros na Coréia do Sul, na China ou em Cingapura, o preço médio será equivalente a R$ 65 milhões. Mas, se comprar estes navios no Brasil, este custo será muito maior. Qual a lógica de pagar mais caro pelos navios produzidos no próprio país da empresa usuária? É que a Petrobras acredita que há uma curva de aprendizado para toda a cadeia produtiva do setor beneficiando engenheiros, soldadores, técnicos e vários outros profissionais. Então, a empresa acredita que este investimento tem lógica porque, a longo prazo, implicará em melhor formação profissional e em redução de custos.

RG – O Sr. tem dito estar convencido da necessidade dos países do BRICS investirem em tecnologia e inovação. Como o Brasil se posiciona nestes setores diante dos demais países do Grupo BRICS?

MT – Penso que inovação é o resultado da interação de quatro fatores: estoque de conhecimento, estoque de capital, ações de empreendedorismo e a atmosfera necessária para que todos estes fatores possam interagir. Neste sentido, o Brasil agiu muito bem, como nos casos dos biocombustíveis ou das aeronaves. Veja a Embraer, por exemplo, que é uma das três maiores empresas fabricantes de aviões do mundo. Nos biocombustíveis, quando a pesquisa foi aplicada para fins industriais, o Brasil se saiu muito bem. Hoje, oito em cada 10 automóveis brasileiros, do sistema flex, utilizam biocombustível. Veja o caso da agricultura.

O Brasil tem uma grande empresa de pesquisa e desenvolvimento, a Embrapa, que é responsável por levantar as vantagens competitivas das sementes e de encurtar o processo de maturação de algumas culturas. Mas quando se trata de investimentos globais de ciência e tecnologia voltadas para a inovação, sou menos otimista. O Brasil está investindo apenas 1% do seu PIB em pesquisa e desenvolvimento, enquanto que um país como a Coréia do Sul, que muitos reconhecem como um dos exemplos maiores de crescimento pela inovação, está investindo mais de 3% do PIB em inovação e desenvolvimento. Dez anos atrás, a China destinava apenas 0,6% do seu PIB à inovação e ao desenvolvimento. Agora, investe 1,5%, e, no período de 2022 a 2025, a China deverá investir 2,5% do seu PIB em inovação e desenvolvimento.

Na Índia, temos uma situação muito desigual. Quando se trata de Tecnologia da Informação, Biotecnologia e Farmacêutica, os avanços são grandes porque contam com um grande aporte de investimentos do setor privado. As empresas multinacionais fazem suas pesquisas na Índia por causa do custo relativamente baixo de produção e do alto nível de capital intelectual humano lá existente. Hoje, na Índia, há mais telefones celulares do que banheiros. Há mais bilionários do que no Reino Unido e na França juntos. Mas é também um país em que há pessoas mais pobres do que em todo o continente africano. Penso que tudo isso é resultado das muitas disparidades que você tem em pesquisa, desenvolvimento, inovação e investimentos. Por sua vez, a Rússia é um dos exemplos clássicos da distância existente entre pesquisa pura e pesquisa aplicada nos mercados. No final de 1970, quatro em cada 10 cientistas do mundo foram trabalhar na União Soviética. Este país foi capaz de realizar coisas notáveis como mandar um homem ao espaço. Mas, ao mesmo tempo, era incapaz de produzir um despertador que tocasse na hora ajustada pelo usuário. Então, este era um grande problema naquele país. Ao mesmo tempo em que dispunha dos maiores cientistas do mundo, enfrentava problemas com a eficiência dos seus produtos no mercado.

RG - A Presidente Dilma Rousseff tem feito grandes esforços para reduzir o chamado custo Brasil, uma combinação de infraestrutura insuficiente, altos impostos e grande burocracia. Esses fatores inibem os investimentos e o desenvolvimento do país. Na sua opinião, que leis ou reformas devem ser implementadas para reduzir o impacto do custo Brasil em 2013?

MT - Para ser absolutamente honesto, tenho visto apenas movimentos táticos por parte das autoridades brasileiras, mas não vi nada de essencial ou estrutural até agora. Mas isso é compreensível. No Brasil, a carga fiscal global sobre a sociedade é de cerca de 37% do PIB, enquanto na Coréia do Sul, por exemplo, é de apenas 26%. Por que a carga tributária no Brasil é tão alta? O governo brasileiro é muito grande e esta é uma escolha da sociedade. O Brasil continua dizendo que tem índices de empregos quase plenos, com uma das taxas de desemprego mais baixas do hemisfério ocidental. Mas se você analisar a composição do emprego, você percebe que muitas pessoas estão empregadas no governo ou nas empresas estatais e em atividades ligadas ao Estado. Um Estado grande, inchado, torna-se caro e ineficiente

O Brasil precisa de uma reforma estrutural que reorganize a sua administração e reduza a carga fiscal. Isso pode acontecer, mas, para ser implementado, precisa de muita vontade política.

RG – Empresas de óleo e gás deverão receber novas concessões no Brasil em 2013. Quais são os desafios e oportunidades que esperam pelo setor energético no país?

MT - Penso que há três dimensões. Uma delas é o desafio representado pela pesquisa de combustíveis em águas profundas, inclusive no pré-sal. São investimentos de tamanha envergadura que, provavelmente, a Petrobras permitirá a empresas do exterior codividir a exploração destas áreas. Quando se trata de pré-sal e petróleo, é óbvio que o desafio tecnológico é enorme. Esta é a segunda dimensão em que se tornam necessários equipamentos caros e de alta tecnologia para atingir regiões com até sete mil metros de profundidade. Quem for capaz de aceitar estes desafios será muito bem sucedido. A terceira área de oportunidades é a de biocombustíveis. Mais e mais países estão interessados no modelo brasileiro de motores flex. Empresas do exterior que aceitem partilhar o conhecimento e a experiência das empresas brasileiras terão todas as condições de alcançar grande sucesso.

Esta notícia foi publicada em 17/12/2012 no site www.diariodarussia.com.br. As informações contidas são de responsabilidade do autor.
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